30.12.03
Homenagem a Orwell na Catalunha
Notícia enviada por Filinto Melo.
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«George Orwell é homenageado na Catalunha
Por Emma Graham-Harrison
GERONA, Espanha (Reuters) - Os ratos ainda infestam o sítio em que George Orwell se recuperou de um tiro no pescoço, mas restam poucos detalhes que indiquem ao visitante a visão arrepiante do escritor sobre um futuro totalitário.
Os turistas que visitam o noroeste da Espanha hoje ficam cativados por sua assombrosa arquitetura, suas belas praias e montanhas e a vibrante vida noturna. Mas foi uma viagem de seis meses à região, depois da Guerra Civil Espanhola, que ajudou Orwell a converter-se em um defensor da liberdade pessoal.
Foi ali que o autor de "1984" e "A Revolução dos Bichos" foi testemunha de desaparecimentos repentinos, censura e lutas violentas dos rebeldes de esquerda, nas quais morreram cerca de 4.000 pessoas, que serviram depois de base ao mundo apocalíptico de suas famosas histórias.
"Isto é obviamente um embrião de '1984', o terror, o ter que se esconder nas ruas, a censura", disse à Reuters Miguel Berga, especialista na obra de Orwell da Universidad de Barcelona e curador de um nova exposição sobre as experiências do escritor na Espanha.
"Viver em um Estado totalitário foi uma espécie de epifania para ele", disse.
Portanto, é possível que tenha sido o sítio o local inspirador para que Orwell utilizasse ratos para a tortura final do herói de "1984".
Orwell chegou à Espanha um pouco depois do Natal de 1936. Tinha 33 anos e estava disposto a sacrificar sua vida para lutar contra as tropas fascistas do general Francisco Franco, que finalmente triunfaram depois de uma guerra de três anos.
O escritor escapou seis meses antes do triunfo franquista, ferido, desiludido e perseguido. Ele escreveu a crônica de sua experiência nas trincheiras em "Homenagem à Catalunha".
"'Homenagem à Catalunha' vai além da política. Foi a primeira vez que ele realizou seu objetivo principal: fundir a política e a arte", disse Berga.
Agora, um século depois de seu nascimento, a Catalunha celebra sua visão e o seu tributo à região ibérica com a mostra "Viagem à Guerra -- George Orwell na Catalunha e na Frente de Aragón".»
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Fonte: Reuters, Yahoo Notícias, 28.12.03
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«George Orwell é homenageado na Catalunha
Por Emma Graham-Harrison
GERONA, Espanha (Reuters) - Os ratos ainda infestam o sítio em que George Orwell se recuperou de um tiro no pescoço, mas restam poucos detalhes que indiquem ao visitante a visão arrepiante do escritor sobre um futuro totalitário.
Os turistas que visitam o noroeste da Espanha hoje ficam cativados por sua assombrosa arquitetura, suas belas praias e montanhas e a vibrante vida noturna. Mas foi uma viagem de seis meses à região, depois da Guerra Civil Espanhola, que ajudou Orwell a converter-se em um defensor da liberdade pessoal.
Foi ali que o autor de "1984" e "A Revolução dos Bichos" foi testemunha de desaparecimentos repentinos, censura e lutas violentas dos rebeldes de esquerda, nas quais morreram cerca de 4.000 pessoas, que serviram depois de base ao mundo apocalíptico de suas famosas histórias.
"Isto é obviamente um embrião de '1984', o terror, o ter que se esconder nas ruas, a censura", disse à Reuters Miguel Berga, especialista na obra de Orwell da Universidad de Barcelona e curador de um nova exposição sobre as experiências do escritor na Espanha.
"Viver em um Estado totalitário foi uma espécie de epifania para ele", disse.
Portanto, é possível que tenha sido o sítio o local inspirador para que Orwell utilizasse ratos para a tortura final do herói de "1984".
Orwell chegou à Espanha um pouco depois do Natal de 1936. Tinha 33 anos e estava disposto a sacrificar sua vida para lutar contra as tropas fascistas do general Francisco Franco, que finalmente triunfaram depois de uma guerra de três anos.
O escritor escapou seis meses antes do triunfo franquista, ferido, desiludido e perseguido. Ele escreveu a crônica de sua experiência nas trincheiras em "Homenagem à Catalunha".
"'Homenagem à Catalunha' vai além da política. Foi a primeira vez que ele realizou seu objetivo principal: fundir a política e a arte", disse Berga.
Agora, um século depois de seu nascimento, a Catalunha celebra sua visão e o seu tributo à região ibérica com a mostra "Viagem à Guerra -- George Orwell na Catalunha e na Frente de Aragón".»
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Fonte: Reuters, Yahoo Notícias, 28.12.03
15.12.03
Orwell no POUM: Socialismo vs. Estalinismo
Quando chega a Espanha, nos últimos dias de Dezembro de 1936, George Orwell é imediatamente convidado a alistar-se nas milícias do Partido Obrero de Unificación Marxista (POUM). Partido de tendência trotskista, foi combatido no seio da Frente Popular pelos comunistas filiados à União Soviética. A primeira semana em Espanha é passada no Quartel Lenine - controlado pelas milícias do POUM desde o início da guerra -, onde os recrutas recebiam o primeiro treino militar.
A experiência nas fileiras do POUM tanto alimenta a sua crença no socialismo como acentua a sua consciência anti-estalinista. A 15 de Junho de 1937, quando o POUM é ilegalizado e perseguido pelos elementos afectos ao PCUS, Orwell é forçado à clandestinidade. Confirmam-se as suspeitas sobre as mutações na natureza do regime: os dirigentes e militantes do POUM são perseguidos e assassinados. Orwell entende que os comunistas russos traíram e revolução, primeiro no seu país e depois em Espanha. A dimensão do totalitarismo estalinista é então palpável: «[...] Esta aliança, conhecida por Frente Popular, é na essência uma aliança de inimigos, e parece sempre destinada a terminar com um dos aliados a devorar o outro. A única característica da situação espanhola - a qual tem causado muitíssimos equívocos fora de Espanha - consiste no facto de, entre os partidos no Governo, os comunistas não ocuparem uma posição de extrema-esquerda e sim, de extrema-direita». [1]
Porém, não obstante as desilusões e a derrota final, a Guerra Civil Espanhola reforça a crença de Orwell no socialismo: «O que atrai os homens comuns para o socialismo [...] é a ideia de igualdade [...]. E foi neste aspecto que os poucos meses passados na milícia foram valiosos para mim. E foram-no porque as milícias espanholas, enquanto duraram, constituíram uma espécie de sociedade sem classes». [2]
Foto: Janeiro de 1937. Milicianos do POUM no quartel Lenine de Barcelona. Orwell é a figura alta ao fundo.
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[1] In Homenagem à Catalunha, ed. Livros do Brasil, Lisboa, p. 70.
[2] In Recordando a Guerra de Espanha, Antígona, Lisboa, 1997, p. 127.
A experiência nas fileiras do POUM tanto alimenta a sua crença no socialismo como acentua a sua consciência anti-estalinista. A 15 de Junho de 1937, quando o POUM é ilegalizado e perseguido pelos elementos afectos ao PCUS, Orwell é forçado à clandestinidade. Confirmam-se as suspeitas sobre as mutações na natureza do regime: os dirigentes e militantes do POUM são perseguidos e assassinados. Orwell entende que os comunistas russos traíram e revolução, primeiro no seu país e depois em Espanha. A dimensão do totalitarismo estalinista é então palpável: «[...] Esta aliança, conhecida por Frente Popular, é na essência uma aliança de inimigos, e parece sempre destinada a terminar com um dos aliados a devorar o outro. A única característica da situação espanhola - a qual tem causado muitíssimos equívocos fora de Espanha - consiste no facto de, entre os partidos no Governo, os comunistas não ocuparem uma posição de extrema-esquerda e sim, de extrema-direita». [1]
Porém, não obstante as desilusões e a derrota final, a Guerra Civil Espanhola reforça a crença de Orwell no socialismo: «O que atrai os homens comuns para o socialismo [...] é a ideia de igualdade [...]. E foi neste aspecto que os poucos meses passados na milícia foram valiosos para mim. E foram-no porque as milícias espanholas, enquanto duraram, constituíram uma espécie de sociedade sem classes». [2]
Foto: Janeiro de 1937. Milicianos do POUM no quartel Lenine de Barcelona. Orwell é a figura alta ao fundo.
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[1] In Homenagem à Catalunha, ed. Livros do Brasil, Lisboa, p. 70.
[2] In Recordando a Guerra de Espanha, Antígona, Lisboa, 1997, p. 127.
Recursos em linha
Com o nome do dirigente do POUM assassinado por elementos estalinistas na Guerra Civil, a Fundación Andreu Nin é fundamentalmente um vasto arquivo da memória do partido. Paulatinamente, alguns daqueles textos e outros recursos serão traduzidos para os Estudos.
Orwell na Guerra Civil - Frente de Aragão
Março de 1937. Na frente de Aragão, em Huesca, George Orwell combate na Guerra Civil de Espanha numa milícia do POUM: é a figura alta ao centro. Eileen Blair, sua mulher, está abaixada em frente a si. À esquerda, com uma carabina nas mãos, está Harry Milton, norte-americano, proeminente membro do movimento internacional trotskista. Quando, em Maio de 1937, Orwell foi gravemente ferido com uma bala no pescoço, foi Milton quem o socorreu. Mais tarde, em Homage to Catalonia, Orwell relataria esse acontecimento: «The American sentry I had been talking to had started forward. ‘Gosh! Are you hit?’ People gathered round. There was the usual fuss — ‘Lift him up! Where’s he hit? Get his shirt open!’ etc., etc. The American called for a knife to cut my shirt open. I knew that there was one in my pocket and tried to get it out, but discovered that my right arm was paralysed.»
A experiência revolucionária permitiu uma amizade e um contacto profundo entre ambos. Os documentos de Milton, para lá da compreensão da ofensiva estalinista sobre trotskistas e anarquistas, esclarece uma parte não negligenciável da presença de Orwell em Espanha. A publicar em breve.
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Foto esquemática
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A experiência revolucionária permitiu uma amizade e um contacto profundo entre ambos. Os documentos de Milton, para lá da compreensão da ofensiva estalinista sobre trotskistas e anarquistas, esclarece uma parte não negligenciável da presença de Orwell em Espanha. A publicar em breve.
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Foto esquemática
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