31.7.03
Referências bibliográficas
[SÉRIE BIBLIOGRÁFICA]
..
Guerra Civil de Espanha, de César Oliveira
«Não é fácil organizar uma bibliografia sobre a guerra civil de Espanha. [...] A bibliografia que agora se dá à estampa construiu-se, sobretudo, na perspectiva de tratar o mais exaustivamente possível uma das questões centrais suscitadas pela eclosão da guerra civil: a projecção internacional do conflito ou, como disse Oliveira Salazar, "a internacionalização de uma guerra desenvolvendo-se no quadro de um território nacional". Na verdade, a guerra de Espanha constituiu não apenas um campo experimental de primeira importância de novos meios de guerra e de inovações táctico-estratégicas, como significou, sobretudo, um afrontamento armado que marcou o refazer de alianças, a criação de novos blocos político-militares e um marco inovador na correlação de forças entre as potências europeias.»
Fonte: da Nota Introdutória
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César Oliveira
Guerra civil de Espanha
1.ª ed. Lisboa: BN, 1986. 46, [1], XV p. il.: il. (Série Bibliográfica)
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Guerra Civil de Espanha, de César Oliveira
«Não é fácil organizar uma bibliografia sobre a guerra civil de Espanha. [...] A bibliografia que agora se dá à estampa construiu-se, sobretudo, na perspectiva de tratar o mais exaustivamente possível uma das questões centrais suscitadas pela eclosão da guerra civil: a projecção internacional do conflito ou, como disse Oliveira Salazar, "a internacionalização de uma guerra desenvolvendo-se no quadro de um território nacional". Na verdade, a guerra de Espanha constituiu não apenas um campo experimental de primeira importância de novos meios de guerra e de inovações táctico-estratégicas, como significou, sobretudo, um afrontamento armado que marcou o refazer de alianças, a criação de novos blocos político-militares e um marco inovador na correlação de forças entre as potências europeias.»
Fonte: da Nota Introdutória
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César Oliveira
Guerra civil de Espanha
1.ª ed. Lisboa: BN, 1986. 46, [1], XV p. il.: il. (Série Bibliográfica)
Em memória
Em Espanha, uma associação procura o reconhecimento institucional das inúmeras vítimas da guerra civil. Milhares que pereceram durante o conflito de 1936-1939, depois sob o franquismo, e que ainda hoje permanecem ocultas nos dados oficiais. Um trabalho a acompanhar.
22.7.03
A guerra na rádio portuguesa dos anos 30
Um texto de Jorge Guimarães Silva sobre o papel da rádio portuguesa nos conflitos europeus dos anos 30 e 40.
Referências bibliográficas
[POESIA]
..
A Guerra Civil de Espanha na Poesia Portuguesa
Antologia por Joaquim Namorado
_______
Autores
_______
Adolfo Casais Monteiro
Alvaro Feijó
António de Navarro
Armindo Rodrigues
Augusto dos Santos Abranches
Carlos de Oliveira
David Mourão Ferreira
Egito Gonçalves
Eugénio de Andrade
João Rui de Sousa
Joaquim Namorado
Joaquim Pessoa
José Ferreira Monte
José Gomes Ferreira
Mário Dionísio
Miguel Torga
Orlando de Carvalho
Reinaldo Ferreira
Sophia de Mello Breyner Andresen
..
A Guerra Civil de Espanha na Poesia Portuguesa
Antologia por Joaquim Namorado
Coimbra, Centelha - Colecção «Poesia Nosso Tempo», n.º 41, 1987
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A Guerra Civil de Espanha na Poesia Portuguesa
Antologia por Joaquim Namorado
_______
Autores
_______
Adolfo Casais Monteiro
Alvaro Feijó
António de Navarro
Armindo Rodrigues
Augusto dos Santos Abranches
Carlos de Oliveira
David Mourão Ferreira
Egito Gonçalves
Eugénio de Andrade
João Rui de Sousa
Joaquim Namorado
Joaquim Pessoa
José Ferreira Monte
José Gomes Ferreira
Mário Dionísio
Miguel Torga
Orlando de Carvalho
Reinaldo Ferreira
Sophia de Mello Breyner Andresen
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A Guerra Civil de Espanha na Poesia Portuguesa
Antologia por Joaquim Namorado
Coimbra, Centelha - Colecção «Poesia Nosso Tempo», n.º 41, 1987
Carta de Espanha
Prossegue a publicação de poemas relativos à Guerra Civil de Espanha. Este, tendencialmente republicano, é de Joaquim Pessoa.
..
Carta de Espanha
Em Espanha morrem os homens
corações da fúria acesa
nas arenas que consomem
esta Espanha de tristeza
Em Espanha morrem os homens
de cabeça levantada
Ai quanto tempo apodrece
em cada veia rasgada
quanto morto que arrefece
em cada porta cerrada
quanta cela que escurece
esta luta ensanguentada
Ai sangue cobrindo a terra
dos Pirinéus à Galiza
ai homens na flor da guerra
ai pão que o povo precisa
ai fúria trazendo dentro
vontade de um povo forte
ai mesetas da verdade
desta luta até à morte.
Ai quanta farpa cravada
sobre a pátria de Quixote.
Quanta vida destroçada
pela força do garrote.
E o sangue virá bater-se
ao lado de quem resiste.
Por quem recusa vender-se
virá de espingarda em riste.
O sangue virá bater-se
por estes homens sofrendo
por estes homens cansados
por estas bocas doendo
por estes punhos cerrados
por estas noites perdidas
por estas mãos amarradas
pelas razões extorquidas
pelas razões esmagadas
por todas todas as vidas
que já foram garrotadas
por todos aqueles mortos
que não souberam de nada
o sangue virá bater-se
uma manhã em Madrid
ou uma noite em Granada.
Em Espanha morrem os homens
de cabeça levantada.
Joaquim Pessoa, in Amor Combate
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Carta de Espanha
Em Espanha morrem os homens
corações da fúria acesa
nas arenas que consomem
esta Espanha de tristeza
Em Espanha morrem os homens
de cabeça levantada
Ai quanto tempo apodrece
em cada veia rasgada
quanto morto que arrefece
em cada porta cerrada
quanta cela que escurece
esta luta ensanguentada
Ai sangue cobrindo a terra
dos Pirinéus à Galiza
ai homens na flor da guerra
ai pão que o povo precisa
ai fúria trazendo dentro
vontade de um povo forte
ai mesetas da verdade
desta luta até à morte.
Ai quanta farpa cravada
sobre a pátria de Quixote.
Quanta vida destroçada
pela força do garrote.
E o sangue virá bater-se
ao lado de quem resiste.
Por quem recusa vender-se
virá de espingarda em riste.
O sangue virá bater-se
por estes homens sofrendo
por estes homens cansados
por estas bocas doendo
por estes punhos cerrados
por estas noites perdidas
por estas mãos amarradas
pelas razões extorquidas
pelas razões esmagadas
por todas todas as vidas
que já foram garrotadas
por todos aqueles mortos
que não souberam de nada
o sangue virá bater-se
uma manhã em Madrid
ou uma noite em Granada.
Em Espanha morrem os homens
de cabeça levantada.
Joaquim Pessoa, in Amor Combate
16.7.03
Não era um Rei do século XIX?
A pretexto do 25º aniversário da morte de Franco, a revista do Expresso de 25.Nov.00 publicou um conjunto de artigos relacionados com o ditador. O retrato de uma sociedade que recusa, numa claustrofobia histórica, encarar o seu passado recente:
«Não era um Rei do século XIX?
Para os jovens espanhóis de hoje, o nome do pequeno general galego que durante quase quatro décadas se sentiu investido de uma «missão divina», governando a Espanha com mão de ferro, significa quase nada. A reacção é lógica: não conheceram a ditadura franquista e, sem «memória histórica», vêem Franco como um «fantasma da história».
Essa é pelo menos a reacção dos alunos de História do liceu Alkal'a Nahar, em Alcala de Henares (Madrid). Têm 17/18 anos, preparam-se já para entrar na Universidade, mas confessam que estariam mais à vontade para descrever em cinco linhas a época de Fernando VII (1784-1833) do que os 37 anos de ditadura franquista, como sucedeu em 1999, no exame da «selectividade» (fim de curso).
Piedad Lozoya procura justificar a reacção dos seus alunos. «O programa de História está muito carregado e é dado por ordem cronológica dos acontecimentos históricos, pelo que, quando chegamos ao fim do ano lectivo, já não temos o tempo necessário para estudar a fundo os últimos capítulos do programa, que tratam precisamente da II República, da Guerra Civil e de Franco.»
Outro professor de História, António Domenech, é da mesma opinião. «Seria talvez preferível ensinar a História começando pelas épocas mais recentes. Mas como isso não é possível, e como acabamos muitas vezes por não tratar devidamente a época franquista, aparecem alunos que situam Franco no século XIX ou perguntam se era um Rei anterior à II República.»
Javier, um aluno de 17 anos, confessa que «não sabe nada» de Franco. Porém, considera que os pais são os principais responsáveis do défice de «memória histórica» dos filhos. «A minha família é de direita, mas nunca me falou de Franco. Creio que não querem desenterrar o passado.»
Carmen, de 18 anos, intervém para dizer: «Os meus pais são de esquerda e adoptaram a mesma atitude.»
O caso de David, também com 18 anos, não é menos significativo do desconhecimento que os jovens espanhóis têm de Franco. Conta que, na sua família, que é monárquica, «tudo o que está relacionado com o antigo regime é uma questão tabu». Também confessa que leu livros sobre Mussolini, mas que nunca se interessou por Franco, que era para si «um desconhecido, sem qualquer interesse».
António Domenech sustenta que esta «amnésia colectiva» à volta de Franco está ligada aos horrores da guerra civil e do princípio da ditadura franquista. «A vitória de Franco serviu de desculpa para vinganças e ajustes de contas que não tinham nada a ver com a política. Por exemplo, na localidade onde vivia a minha família foram executadas muitas pessoas, mas os meus pais nunca me falaram do assunto!»
Esta vontade de «enterrar e esquecer completamente o passado» explicaria também a maneira asséptica como se trata o franquismo nas escolas. Os livros de História procuram dar uma imagem fria, objectiva e imparcial do franquismo, utilizando termos como «regime», «época», «era», «período», mas só muito raramente a palavra «ditadura», como se as autoridades académicas quisessem fugir à polémica «relativizando» a questão.
Os resultados estão à vista: 45% dos espanhóis pensam que Franco «fez coisas boas e coisas más», uma opinião que é também a da maioria dos alunos de Piedad Lozoya. «Pelo meu lado, insisto sempre muito com os meus alunos em que Franco era um ditador cruel e que só depois da sua morte é que os espanhóis puderam recuperar a democracia e as liberdades», sublinha a professora de História.
A reacção de David, por exemplo, é bastante significativa. Por um lado, pensa que com Franco «haveria menos terrorismo, menos separatismo basco e menos nacionalismo catalão». Mas, por outro lado, rejeita energicamente a etiqueta de «franquista», dizendo que «é pejorativa, utilizada apenas por um punhado de jovens violentos, sem ideologia, ligados geralmente aos grupos 'ultra' dos clubes de futebol».
Tal como 59% dos espanhóis, os alunos de Akal'a Nahar consideram que o franquismo «é apenas um elemento residual sem qualquer influência na sociedade espanhola». Por exemplo, Javier, Carmen e David só conhecem um dos 18 descendentes directos de Franco, a «netíssima» Carmen Martinez-Bordiu, «e só porque já vai no terceiro casamento e aparece muitas vezes nas revistas cor-de-rosa».
Também admitem que o seu desconhecimento de Franco esteja relacionado com o desaparecimento da maioria dos elementos da chamada «memória imposta» do franquismo. «Aqui, em Alcala de Henares, não conhecemos nenhum monumento de Franco», indicam os alunos de Piedad Lozoya, que ignoravam que só existem em todo o país três estátuas equestres do «Caudillo» - em Madrid, em Santander e em El Ferrol, a cidade natal do ditador.
Como diria alguns dias antes ao Expresso o chefe do Governo espanhol, José Maria Aznar, no Palácio da Moncloa: «Temos de assumir com naturalidade que Franco faz parte da História. Também não podemos ignorar que Franco foi Chefe de Estado até ao seu último suspiro e que morreu de velhice numa cama da Segurança Social. Deixemos pois aos historiadores a responsabilidade de julgar o papel histórico de Franco.»
Aliás, tal como a esmagadora maioria dos espanhóis, os alunos de Akal'a Nahar fazem um balanço extremamente positivo dos últimos 25 anos e mostram-se particularmente orgulhosos da «transição política» espanhola, cujos principais protagonistas foram o Rei Juan Carlos, designado por Franco, e Adolfo Suarez, que havia sido secretário-geral do «Movimiento», o partido único franquista.
«A transição política espanhola e os últimos 25 anos são a história de um êxito colectivo», diria ainda Aznar, citando o seu próprio exemplo: neto de um alto dignitário do franquismo e filho de um importante falangista, não lutou contra o franquismo, o que não impede que alguém possa pôr em dúvida as suas convicções democráticas. E governa hoje o país, com maioria absoluta.»
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Fonte: Jornal Expresso, 25/11/00, texto de José Alves
«Não era um Rei do século XIX?
Para os jovens espanhóis de hoje, o nome do pequeno general galego que durante quase quatro décadas se sentiu investido de uma «missão divina», governando a Espanha com mão de ferro, significa quase nada. A reacção é lógica: não conheceram a ditadura franquista e, sem «memória histórica», vêem Franco como um «fantasma da história».
Essa é pelo menos a reacção dos alunos de História do liceu Alkal'a Nahar, em Alcala de Henares (Madrid). Têm 17/18 anos, preparam-se já para entrar na Universidade, mas confessam que estariam mais à vontade para descrever em cinco linhas a época de Fernando VII (1784-1833) do que os 37 anos de ditadura franquista, como sucedeu em 1999, no exame da «selectividade» (fim de curso).
Piedad Lozoya procura justificar a reacção dos seus alunos. «O programa de História está muito carregado e é dado por ordem cronológica dos acontecimentos históricos, pelo que, quando chegamos ao fim do ano lectivo, já não temos o tempo necessário para estudar a fundo os últimos capítulos do programa, que tratam precisamente da II República, da Guerra Civil e de Franco.»
Outro professor de História, António Domenech, é da mesma opinião. «Seria talvez preferível ensinar a História começando pelas épocas mais recentes. Mas como isso não é possível, e como acabamos muitas vezes por não tratar devidamente a época franquista, aparecem alunos que situam Franco no século XIX ou perguntam se era um Rei anterior à II República.»
Javier, um aluno de 17 anos, confessa que «não sabe nada» de Franco. Porém, considera que os pais são os principais responsáveis do défice de «memória histórica» dos filhos. «A minha família é de direita, mas nunca me falou de Franco. Creio que não querem desenterrar o passado.»
Carmen, de 18 anos, intervém para dizer: «Os meus pais são de esquerda e adoptaram a mesma atitude.»
O caso de David, também com 18 anos, não é menos significativo do desconhecimento que os jovens espanhóis têm de Franco. Conta que, na sua família, que é monárquica, «tudo o que está relacionado com o antigo regime é uma questão tabu». Também confessa que leu livros sobre Mussolini, mas que nunca se interessou por Franco, que era para si «um desconhecido, sem qualquer interesse».
António Domenech sustenta que esta «amnésia colectiva» à volta de Franco está ligada aos horrores da guerra civil e do princípio da ditadura franquista. «A vitória de Franco serviu de desculpa para vinganças e ajustes de contas que não tinham nada a ver com a política. Por exemplo, na localidade onde vivia a minha família foram executadas muitas pessoas, mas os meus pais nunca me falaram do assunto!»
Esta vontade de «enterrar e esquecer completamente o passado» explicaria também a maneira asséptica como se trata o franquismo nas escolas. Os livros de História procuram dar uma imagem fria, objectiva e imparcial do franquismo, utilizando termos como «regime», «época», «era», «período», mas só muito raramente a palavra «ditadura», como se as autoridades académicas quisessem fugir à polémica «relativizando» a questão.
Os resultados estão à vista: 45% dos espanhóis pensam que Franco «fez coisas boas e coisas más», uma opinião que é também a da maioria dos alunos de Piedad Lozoya. «Pelo meu lado, insisto sempre muito com os meus alunos em que Franco era um ditador cruel e que só depois da sua morte é que os espanhóis puderam recuperar a democracia e as liberdades», sublinha a professora de História.
A reacção de David, por exemplo, é bastante significativa. Por um lado, pensa que com Franco «haveria menos terrorismo, menos separatismo basco e menos nacionalismo catalão». Mas, por outro lado, rejeita energicamente a etiqueta de «franquista», dizendo que «é pejorativa, utilizada apenas por um punhado de jovens violentos, sem ideologia, ligados geralmente aos grupos 'ultra' dos clubes de futebol».
Tal como 59% dos espanhóis, os alunos de Akal'a Nahar consideram que o franquismo «é apenas um elemento residual sem qualquer influência na sociedade espanhola». Por exemplo, Javier, Carmen e David só conhecem um dos 18 descendentes directos de Franco, a «netíssima» Carmen Martinez-Bordiu, «e só porque já vai no terceiro casamento e aparece muitas vezes nas revistas cor-de-rosa».
Também admitem que o seu desconhecimento de Franco esteja relacionado com o desaparecimento da maioria dos elementos da chamada «memória imposta» do franquismo. «Aqui, em Alcala de Henares, não conhecemos nenhum monumento de Franco», indicam os alunos de Piedad Lozoya, que ignoravam que só existem em todo o país três estátuas equestres do «Caudillo» - em Madrid, em Santander e em El Ferrol, a cidade natal do ditador.
Como diria alguns dias antes ao Expresso o chefe do Governo espanhol, José Maria Aznar, no Palácio da Moncloa: «Temos de assumir com naturalidade que Franco faz parte da História. Também não podemos ignorar que Franco foi Chefe de Estado até ao seu último suspiro e que morreu de velhice numa cama da Segurança Social. Deixemos pois aos historiadores a responsabilidade de julgar o papel histórico de Franco.»
Aliás, tal como a esmagadora maioria dos espanhóis, os alunos de Akal'a Nahar fazem um balanço extremamente positivo dos últimos 25 anos e mostram-se particularmente orgulhosos da «transição política» espanhola, cujos principais protagonistas foram o Rei Juan Carlos, designado por Franco, e Adolfo Suarez, que havia sido secretário-geral do «Movimiento», o partido único franquista.
«A transição política espanhola e os últimos 25 anos são a história de um êxito colectivo», diria ainda Aznar, citando o seu próprio exemplo: neto de um alto dignitário do franquismo e filho de um importante falangista, não lutou contra o franquismo, o que não impede que alguém possa pôr em dúvida as suas convicções democráticas. E governa hoje o país, com maioria absoluta.»
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Fonte: Jornal Expresso, 25/11/00, texto de José Alves
Glossário
Falange Espanhola - Partido Fascista Espanhol. Foi fundado em 1933 por José Primo de Rivera, filho do líder militar Miguel Primo de Rivera. Em termos de programa e organização, a Falange Espanhola foi criada à semelhança do partido fascista italiano e do partido nacional-socialista alemão. Quando Franco assumiu a sua liderança, em 1937, unificou os diferentes corpos políticos de combate à República numa única estrutura: a Falange Espanhola Tradicionalista. Após o final da guerra civil, seria a Falange Espanhola Tradicionalista a enformar os segmentos ideológicos do Franquismo.
14.7.03
O Cinema e a Guerra Civil
Diversos foram os realizadores que, de um ponto de vista mais ou menos ficcional, mais ou menos imparcial, filmaram sobre a Guerra Civil Espanhola. E legaram, em certos casos, preciosos contributos para a sua compreensão. Assim, a par das referências bibliográficas e biográficas, os Estudos passarão a incluir notas sobre filmes, séries ou documentários que abordem o tema. Com uma compilação de Fernando Pinto Basto, a listagem dos próximos a desenvolver:
Documentários:
* «Espana leal en armas» (1937), supervisão de Luis Buñuel.
* «Mourir à Madrid» (1963), Frédéric Roussif.
* «No pasáran, album souvenir» (2003), Henri-François Imbert.
Ficção:
* «Land and Freedom» (1995), Ken Loach.
* «Libertárias» (1996), Vicente Aranda.
Animação:
* «Os Salteadores» (1993), Abi Feijó.
Documentários:
* «Espana leal en armas» (1937), supervisão de Luis Buñuel.
* «Mourir à Madrid» (1963), Frédéric Roussif.
* «No pasáran, album souvenir» (2003), Henri-François Imbert.
Ficção:
* «Land and Freedom» (1995), Ken Loach.
* «Libertárias» (1996), Vicente Aranda.
Animação:
* «Os Salteadores» (1993), Abi Feijó.
Películas da Guerra Civil
[SÉRIE]
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A Raia dos Medos, de Francisco Moita Flores
«A Raia dos Medos não procura fazer a reconstituição histórico-política da Guerra Civil Espanhola. Tenta antes reconstituir a história das mentalidades, das emoções, das crenças, dos medos, das superstições que percorreram as populações portuguesas raianas tocadas involuntariamente pela guerra. Por outro lado, tenta sobrelevar os laços de amizade, de solidariedade e coexistência fraterna entre as populações fronteiriças. É, de alguma forma, a visão da guerra pelos não combatentes portugueses, mas nem por isso figuras neutras ou descomprometidas numa contenda que não era sua. Paralelamente aos dissabores da guerra que retrata, é também uma história de amor entre portugueses e espanhóis.
A série é dedicada a quatro homens que viveram a guerra: Monsenhor Josep Liorens, Joaquim Nabeiro (Joaquim da Olaia), José Marcelino (Moleiro da Coxinha) e ao Padre Teixeira. Que há de comum entre estes quatro homens e o corpo que lhe entregámos nas personagens que ilustram esta ficção? Todos foram testemunhas da guerra, todos a viveram de forma intensa e os quatro ficaram com a vida para sempre indissociada desse trágico conflito que atravessou a Espanha entre 1936 e 1939.
A maior parte dos acontecimentos que serviram de base à série são verídicos e aconteceram durante a Guerra Civil de Espanha, na zona de fronteira perto de Barrancos, Mourão e Campo Maior, no Verão de 1936, logo após o início da guerra. [...]»
Fonte: NBP Produções
___________
Ficha Técnica
___________
Autoria: Francisco Moita Flores
Realização: Jorge Paixão da Costa
Actores principais: Adriano Luz, Luis Lorenzo, Filomena Gonçalves, António Rama, Henrique Viana, Canto e Castro, Ana Rocha, Fernanda Lapa
Produtora: Paula Nascimento
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A Raia dos Medos, de Francisco Moita Flores
«A Raia dos Medos não procura fazer a reconstituição histórico-política da Guerra Civil Espanhola. Tenta antes reconstituir a história das mentalidades, das emoções, das crenças, dos medos, das superstições que percorreram as populações portuguesas raianas tocadas involuntariamente pela guerra. Por outro lado, tenta sobrelevar os laços de amizade, de solidariedade e coexistência fraterna entre as populações fronteiriças. É, de alguma forma, a visão da guerra pelos não combatentes portugueses, mas nem por isso figuras neutras ou descomprometidas numa contenda que não era sua. Paralelamente aos dissabores da guerra que retrata, é também uma história de amor entre portugueses e espanhóis.
A série é dedicada a quatro homens que viveram a guerra: Monsenhor Josep Liorens, Joaquim Nabeiro (Joaquim da Olaia), José Marcelino (Moleiro da Coxinha) e ao Padre Teixeira. Que há de comum entre estes quatro homens e o corpo que lhe entregámos nas personagens que ilustram esta ficção? Todos foram testemunhas da guerra, todos a viveram de forma intensa e os quatro ficaram com a vida para sempre indissociada desse trágico conflito que atravessou a Espanha entre 1936 e 1939.
A maior parte dos acontecimentos que serviram de base à série são verídicos e aconteceram durante a Guerra Civil de Espanha, na zona de fronteira perto de Barrancos, Mourão e Campo Maior, no Verão de 1936, logo após o início da guerra. [...]»
Fonte: NBP Produções
___________
Ficha Técnica
___________
Autoria: Francisco Moita Flores
Realização: Jorge Paixão da Costa
Actores principais: Adriano Luz, Luis Lorenzo, Filomena Gonçalves, António Rama, Henrique Viana, Canto e Castro, Ana Rocha, Fernanda Lapa
Produtora: Paula Nascimento
Referências bibliogáficas - Índice
________
[ENSAIO]
________
Portugal e a Guerra Civil de Espanha, coord. de Fernando Rosas
________
[POESIA]
________
Poesia II, de Jorge de Sena
Poesia III, de José Gomes Ferreira
__________
[ROMANCE]
__________
Afirma Pereira, de Antonio Tabucchi
Sinais de Fogo, de Jorge de Sena
[ENSAIO]
________
Portugal e a Guerra Civil de Espanha, coord. de Fernando Rosas
________
[POESIA]
________
Poesia II, de Jorge de Sena
Poesia III, de José Gomes Ferreira
__________
[ROMANCE]
__________
Afirma Pereira, de Antonio Tabucchi
Sinais de Fogo, de Jorge de Sena
11.7.03
O que escondem os papéis de Franco?
Na edição da revista Visão de 24.Abr.03, o jornalista Gonzalo Martín escreveu uma peça de duas páginas intitulada O que escondem os papéis de Franco? (consultar versão .pfd).
Recorda-nos, fundamentalmente, uma Espanha adormecida num clima de secretismo histórico e numa «amnésia tácita da democracia», nas palavras de Martín, que impede visceralmente a investigação científica e compromete a cabal compreensão de todo um período charneira para a história da Europa. Todavia, Martín lança algumas pistas para tantas interrogações. Alguns excertos:
«Uma série de historiadores espanhóis começou a reclamar, há cerca de quatro meses, o direito à consulta de cerca de 27 mil documentos acumulados por Franco durante os seus 39 anos de poder (1936-1975). A depositária exclusiva de tal acervo é a Fundação Nacional Francisco Franco, dirigida pela filha do antigo caudillo, Carmen. Curiosamente, esta luta pública pelo acesso aos referidos arquivos foi desencadeada não pela esquerda, mas por um prolífero historiador pró-franquista, Ricardo la Cierva, que em 1995 esbarrou na muralha de mistério. «A Fundação não só me fecha as portas a mim como a historiadores insuspeitos como o general Rafael Casas de la Vega e os almirantes Francisco e Salvador Moreno. Aquilo não é uma fundação, mas um bunker genuíno, permanente e inalterável», desabafa.
[...] A consulta do arquivo escondido de Franco é [...] considerada indispensável para a reconstituição do passado. Apesar de recomendações formais nesse sentido das Cortes (Parlamento), a fundação orientada por Carmen Franco continua a subtrair o seu património às regras dos arquivos públicos.
[...] Algumas circunstâncias estranhas que rodearam a tentativa de golpe de Estado direitista protagonizada por Tejero de Molina (1981) vieram reforçar a autocontenção psíquica dos políticos espanhóis. [...] Não surpreende por isso que, só na área metropolitana de Madrid, existam ainda 18 estátuas de Franco, e que em muitas povoações da Meseta Central se conservem artérias com o seu nome. Se bem que, sob o Governo de centro-direita de Aznar, tenha crescido a revisitação combativa do passado pela esquerda. Em Julho último, na portuária Ferrol, a cidade natal de Franco, retirou-se uma grande estátua equestre de Franco, um homem bastante receptivo ao culto da personalidade.
O «pacto do esquecimento» foi facilitado pela natureza da evolução espanhola: o Rei Juan Carlos, hoje consensual, herdou o seu poder directamente de Franco. E também pela memória da guerra civil (1936-1939), um dos mais sangrentos conflitos fratricidas do século XX, onde morreram no mínimo 500 mil pessoas. Durante a guerra e ao longo do seu regime, um dos mais cruéis do Ocidente, Franco extremou a repressão de comunistas, anarquistas, socialistas e maçons.
Criou mesmo o Tribunal Especial para a Repressão da Maçonaria. Segundo o actual grão-mestre, Tomás Sarobe, durante 39 anos foram assassinados 12 mil maçons e elaborados processos judiciais a 40 mil (alguns, afinal, não maçons). Também a Igreja Católica, que emergiu ganhadora do conflito, teve a sua quota-parte de vitimização: cerca de 7 mil padres e outros religiosos foram executados, entre mais de 100 mil activistas católicos mortos.
[...] Uma ideia desta «história enterrada» é dada pela existência, em valas comuns, de 30 mil cadáveres de vítimas da guerra civil (sobretudo nas zonas republicanas). As câmaras municipais, segundo iniciativa do Governo de Aznar, deverão desbloquear fundos para exumar os cadáveres, procurar identificá-los e honrar a sua memória. Trata-se de exorcizar esse «prelúdio ao Apocalipse», como o francês André Malraux chamou à Guerra Civil de Espanha.
Na vanguarda deste movimento pela memória está a Catalunha. Os documentários televisivos de Montse Armengou As Crianças Perdidas do Franquismo bateram recordes de audiência. E os catalães exigem a devolução dos seus arquivos espoliados durante a guerra civil e concentrados em Salamanca.»
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Fonte: Revista Visão
Recorda-nos, fundamentalmente, uma Espanha adormecida num clima de secretismo histórico e numa «amnésia tácita da democracia», nas palavras de Martín, que impede visceralmente a investigação científica e compromete a cabal compreensão de todo um período charneira para a história da Europa. Todavia, Martín lança algumas pistas para tantas interrogações. Alguns excertos:
«Uma série de historiadores espanhóis começou a reclamar, há cerca de quatro meses, o direito à consulta de cerca de 27 mil documentos acumulados por Franco durante os seus 39 anos de poder (1936-1975). A depositária exclusiva de tal acervo é a Fundação Nacional Francisco Franco, dirigida pela filha do antigo caudillo, Carmen. Curiosamente, esta luta pública pelo acesso aos referidos arquivos foi desencadeada não pela esquerda, mas por um prolífero historiador pró-franquista, Ricardo la Cierva, que em 1995 esbarrou na muralha de mistério. «A Fundação não só me fecha as portas a mim como a historiadores insuspeitos como o general Rafael Casas de la Vega e os almirantes Francisco e Salvador Moreno. Aquilo não é uma fundação, mas um bunker genuíno, permanente e inalterável», desabafa.
[...] A consulta do arquivo escondido de Franco é [...] considerada indispensável para a reconstituição do passado. Apesar de recomendações formais nesse sentido das Cortes (Parlamento), a fundação orientada por Carmen Franco continua a subtrair o seu património às regras dos arquivos públicos.
[...] Algumas circunstâncias estranhas que rodearam a tentativa de golpe de Estado direitista protagonizada por Tejero de Molina (1981) vieram reforçar a autocontenção psíquica dos políticos espanhóis. [...] Não surpreende por isso que, só na área metropolitana de Madrid, existam ainda 18 estátuas de Franco, e que em muitas povoações da Meseta Central se conservem artérias com o seu nome. Se bem que, sob o Governo de centro-direita de Aznar, tenha crescido a revisitação combativa do passado pela esquerda. Em Julho último, na portuária Ferrol, a cidade natal de Franco, retirou-se uma grande estátua equestre de Franco, um homem bastante receptivo ao culto da personalidade.
O «pacto do esquecimento» foi facilitado pela natureza da evolução espanhola: o Rei Juan Carlos, hoje consensual, herdou o seu poder directamente de Franco. E também pela memória da guerra civil (1936-1939), um dos mais sangrentos conflitos fratricidas do século XX, onde morreram no mínimo 500 mil pessoas. Durante a guerra e ao longo do seu regime, um dos mais cruéis do Ocidente, Franco extremou a repressão de comunistas, anarquistas, socialistas e maçons.
Criou mesmo o Tribunal Especial para a Repressão da Maçonaria. Segundo o actual grão-mestre, Tomás Sarobe, durante 39 anos foram assassinados 12 mil maçons e elaborados processos judiciais a 40 mil (alguns, afinal, não maçons). Também a Igreja Católica, que emergiu ganhadora do conflito, teve a sua quota-parte de vitimização: cerca de 7 mil padres e outros religiosos foram executados, entre mais de 100 mil activistas católicos mortos.
[...] Uma ideia desta «história enterrada» é dada pela existência, em valas comuns, de 30 mil cadáveres de vítimas da guerra civil (sobretudo nas zonas republicanas). As câmaras municipais, segundo iniciativa do Governo de Aznar, deverão desbloquear fundos para exumar os cadáveres, procurar identificá-los e honrar a sua memória. Trata-se de exorcizar esse «prelúdio ao Apocalipse», como o francês André Malraux chamou à Guerra Civil de Espanha.
Na vanguarda deste movimento pela memória está a Catalunha. Os documentários televisivos de Montse Armengou As Crianças Perdidas do Franquismo bateram recordes de audiência. E os catalães exigem a devolução dos seus arquivos espoliados durante a guerra civil e concentrados em Salamanca.»
..
Fonte: Revista Visão
8.7.03
Referências biográficas
_____________
John Cornford
_____________
Filho do poeta Frances Cornford, Rupert John Cornford nasceu em Cambridge, em 1915. Repartiu os seus estudos em História pelo Trinity College e pela London Scholl of Economics. Na universidade, começou a escrever poesia. Em 1933, Cornford ingressou no Partido Comunista da Grã-Bretanha e, em 1936, tornou-se o primeiro britânico a combater pelos Republicanos na Guerra Civil de Espanha, na frente de Aragão. Em Espanha, uniu-se ao POUM - Partido Obrero de Unificación Marxista - e integrou as Brigadas Internacionais.
Cornford foi morto nos arredores de Madrid a 29 de Dezembro de 1936. Uma das suas composições poéticas mais conhecidas é, precisamente, Carta do Campo de Batalha a Uma Milha de Huesca (1936) - cf. nota de 30.06.03.
..
Fontes: Spartacus Educational e outras.
John Cornford
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Filho do poeta Frances Cornford, Rupert John Cornford nasceu em Cambridge, em 1915. Repartiu os seus estudos em História pelo Trinity College e pela London Scholl of Economics. Na universidade, começou a escrever poesia. Em 1933, Cornford ingressou no Partido Comunista da Grã-Bretanha e, em 1936, tornou-se o primeiro britânico a combater pelos Republicanos na Guerra Civil de Espanha, na frente de Aragão. Em Espanha, uniu-se ao POUM - Partido Obrero de Unificación Marxista - e integrou as Brigadas Internacionais.
Cornford foi morto nos arredores de Madrid a 29 de Dezembro de 1936. Uma das suas composições poéticas mais conhecidas é, precisamente, Carta do Campo de Batalha a Uma Milha de Huesca (1936) - cf. nota de 30.06.03.
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Fontes: Spartacus Educational e outras.
Referências bibliográficas
[ROMANCE]
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Afirma Pereira, de Antonio Tabucchi
«Retrato do ambiente europeu no final dos anos 30, Afirma Pereira tem como cenário o salazarismo, o fascismo italiano e a guerra civil espanhola. Em Lisboa, um solitário jornalista, resignado e sem opções políticas, consegue mudar a sua atitude perante o mundo. E conta-nos como. O autor, Tabucchi, definiu esta obra como um romance existencial.»
..
Fonte: Jornal Público
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Afirma Pereira, de Antonio Tabucchi
«Retrato do ambiente europeu no final dos anos 30, Afirma Pereira tem como cenário o salazarismo, o fascismo italiano e a guerra civil espanhola. Em Lisboa, um solitário jornalista, resignado e sem opções políticas, consegue mudar a sua atitude perante o mundo. E conta-nos como. O autor, Tabucchi, definiu esta obra como um romance existencial.»
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Fonte: Jornal Público
Sobre os Fuzilamentos de Goya
Carta a Meus Filhos sobre os Fuzilamentos de Goya
Não sei, meus filhos, que mundo será o vosso.
É possível, porque tudo é possível, que ele seja
aquele que eu desejo para vós. Um simples mundo,
onde tudo tenha apenas a dificuldade que advém
de nada haver que não seja simples e natural.
Um mundo em que tudo seja permitido,
conforme o vosso gosto, o vosso anseio, o vosso prazer,
o vosso respeito pelos outros, o respeito dos outros por vós.
E é possível que não seja isto, nem seja sequer isto
o que vos interesse para viver. Tudo é possível,
ainda quando lutemos, como devemos lutar,
por quanto nos pareça a liberdade e a justiça,
ou mais que qualquer delas uma fiel
dedicação à honra de estar vivo.
(...)
Acreditai que nenhum mundo, que nada nem ninguém
vale mais que uma vida ou a alegria de tê-la.
É isto o que mais importa - essa alegria.
Acreditai que a dignidade em que hão-de falar-vos tanto
não é senão essa alegria que vem
de estar-se vivo e sabendo que nenhuma vez
alguém está menos vivo ou sofre ou morre
para que um só de vós resista um pouco mais
à morte que é de todos e virá.
Que tudo isto sabereis serenamente,
sem culpas a ninguém, sem terror, sem ambição,
e sobretudo sem desapego ou indiferença,
ardentemente espero. Tanto sangue,
tanta dor, tanta angústia, um dia
- mesmo que o tédio de um mundo feliz vos persiga -
não hão-de ser em vão. Confesso que
muitas vezes, pensando no horror de tantos séculos
de opressão e crueldade, hesito por momentos
e uma amargura me submerge inconsolável.
Serão ou não em vão? Mas, mesmo que o não sejam,
quem ressuscita esses milhões, quem restitui
não só a vida, mas tudo o que lhes foi tirado?
Nenhum Juízo Final, meus filhos, pode dar-lhes
aquele instante que não viveram, aquele objecto
que não fruíram, aquele gesto
de amor, que fariam «amanhã».
E, por isso, o mesmo mundo que criemos
nos cumpre tê-lo com cuidado, como coisa
que não é nossa, que nos é cedida
para a guardarmos respeitosamente
em memória do sangue que nos corre nas veias,
da nossa carne que foi outra, do amor que
outros não amaram porque lho roubaram.
Jorge de Sena, Lisboa, 25/6/1959
..
Poesia II
Lisboa, Edições 70, 1988
Não sei, meus filhos, que mundo será o vosso.
É possível, porque tudo é possível, que ele seja
aquele que eu desejo para vós. Um simples mundo,
onde tudo tenha apenas a dificuldade que advém
de nada haver que não seja simples e natural.
Um mundo em que tudo seja permitido,
conforme o vosso gosto, o vosso anseio, o vosso prazer,
o vosso respeito pelos outros, o respeito dos outros por vós.
E é possível que não seja isto, nem seja sequer isto
o que vos interesse para viver. Tudo é possível,
ainda quando lutemos, como devemos lutar,
por quanto nos pareça a liberdade e a justiça,
ou mais que qualquer delas uma fiel
dedicação à honra de estar vivo.
(...)
Acreditai que nenhum mundo, que nada nem ninguém
vale mais que uma vida ou a alegria de tê-la.
É isto o que mais importa - essa alegria.
Acreditai que a dignidade em que hão-de falar-vos tanto
não é senão essa alegria que vem
de estar-se vivo e sabendo que nenhuma vez
alguém está menos vivo ou sofre ou morre
para que um só de vós resista um pouco mais
à morte que é de todos e virá.
Que tudo isto sabereis serenamente,
sem culpas a ninguém, sem terror, sem ambição,
e sobretudo sem desapego ou indiferença,
ardentemente espero. Tanto sangue,
tanta dor, tanta angústia, um dia
- mesmo que o tédio de um mundo feliz vos persiga -
não hão-de ser em vão. Confesso que
muitas vezes, pensando no horror de tantos séculos
de opressão e crueldade, hesito por momentos
e uma amargura me submerge inconsolável.
Serão ou não em vão? Mas, mesmo que o não sejam,
quem ressuscita esses milhões, quem restitui
não só a vida, mas tudo o que lhes foi tirado?
Nenhum Juízo Final, meus filhos, pode dar-lhes
aquele instante que não viveram, aquele objecto
que não fruíram, aquele gesto
de amor, que fariam «amanhã».
E, por isso, o mesmo mundo que criemos
nos cumpre tê-lo com cuidado, como coisa
que não é nossa, que nos é cedida
para a guardarmos respeitosamente
em memória do sangue que nos corre nas veias,
da nossa carne que foi outra, do amor que
outros não amaram porque lho roubaram.
Jorge de Sena, Lisboa, 25/6/1959
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Poesia II
Lisboa, Edições 70, 1988
7.7.03
Referências bibliográficas
[ENSAIO]
..
Portugal e a Guerra Civil de Espanha, coord. de Fernando Rosas
«Não quis o Instituto de História Contemporânea da F.C.S.H. da Universidade Nova de Lisboa deixar passar em branco, em 1996, o 60.º aniversário da eclosão da Guerra Civil de Espanha. A efeméride reportava-se a um evento demasiado importante para a história europeia deste século, e para a história do nosso país, em particular, para que acerca dele se perdesse a oportunidade de um debate historiográfico que reiniu em Lisboa colegas americanos, espanhóis e portugueses especialistas no período, centrado na preocupação de fazer um balanço e de divulgar as mais recentes investigações sobre o assunto proposto. Sobre o conjunto desta problemática, os participantes no colóquio, com as suas comunicações e as suas intervenções, permitiram um debate inovador que, na medida do possível, pretendemos, com as presentes actas, dar à estampa.»
Fonte: da Introdução Editorial
_________
Conteúdos
_________
- O cerco à embaixada da República Espanhola em Lisboa (Maio a Outubro de 1936), António Pedro Vicente.
- As relações peninsulares num período de guerras globais (1935-1945), António José Telo.
- A rádio portuguesa e a guerra civil de Espanha, Filomena Abreu.
- O republicanismo/reviralhismo e a guerra civil de Espanha: do ocaso do reviralhismo à unidade antifascista, Luís Farinha.
- O Partido Comunista Português e a guerra civil de Espanha, João Brito Freire.
- Sobre o anarquismo português e a guerra de Espanha, João Freire.
- La conspiración iberista de Manuel Anaña, Hipólito de la Torre.
- La quiebra de la Segunda Republica, Stanley Payne.
- La politica exterior de la Republica Española, Juan Carlos Jiménez Redondo.
..
Portugal e a Guerra Civil de Espanha
(Coord.: Fernando Rosas)
(Em co-edição com a Faculdade de Ciências Sociais e Humanas
da Universidade Nova de Lisboa)
Lisboa, Edições Colibri, 238 p., 1998
..
Portugal e a Guerra Civil de Espanha, coord. de Fernando Rosas
«Não quis o Instituto de História Contemporânea da F.C.S.H. da Universidade Nova de Lisboa deixar passar em branco, em 1996, o 60.º aniversário da eclosão da Guerra Civil de Espanha. A efeméride reportava-se a um evento demasiado importante para a história europeia deste século, e para a história do nosso país, em particular, para que acerca dele se perdesse a oportunidade de um debate historiográfico que reiniu em Lisboa colegas americanos, espanhóis e portugueses especialistas no período, centrado na preocupação de fazer um balanço e de divulgar as mais recentes investigações sobre o assunto proposto. Sobre o conjunto desta problemática, os participantes no colóquio, com as suas comunicações e as suas intervenções, permitiram um debate inovador que, na medida do possível, pretendemos, com as presentes actas, dar à estampa.»
Fonte: da Introdução Editorial
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Conteúdos
_________
- O cerco à embaixada da República Espanhola em Lisboa (Maio a Outubro de 1936), António Pedro Vicente.
- As relações peninsulares num período de guerras globais (1935-1945), António José Telo.
- A rádio portuguesa e a guerra civil de Espanha, Filomena Abreu.
- O republicanismo/reviralhismo e a guerra civil de Espanha: do ocaso do reviralhismo à unidade antifascista, Luís Farinha.
- O Partido Comunista Português e a guerra civil de Espanha, João Brito Freire.
- Sobre o anarquismo português e a guerra de Espanha, João Freire.
- La conspiración iberista de Manuel Anaña, Hipólito de la Torre.
- La quiebra de la Segunda Republica, Stanley Payne.
- La politica exterior de la Republica Española, Juan Carlos Jiménez Redondo.
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Portugal e a Guerra Civil de Espanha
(Coord.: Fernando Rosas)
(Em co-edição com a Faculdade de Ciências Sociais e Humanas
da Universidade Nova de Lisboa)
Lisboa, Edições Colibri, 238 p., 1998
Entrevista com Lyon de Castro
Lyon de Castro, veterano anti-fascista, concedeu em Novembro de 2000 uma entrevista a Maria Helena Correia para o jornal «República». Nela, Lyon relata alguns factos relacionados com Espanha durante a II República e a guerra civil. Pelas suas palavras conseguimos extrair alguma da atmosfera política que potenciou o conflito.
4.7.03
Benjamin: Teses sobre a Filosofia da História
«Os próprios mortos não estarão ao abrigo do inimigo se este for vencedor. E o inimigo não parou de ser vencedor. [...]
Quem quer que tenha saído vitorioso participa até hoje na procissão triunfal em que os governantes de agora passam por cima dos que estão prostrados no chão. Como é de uso, os despojos são transportados ao longo da procissão. Chamam-lhes tesouros culturais. [...] Não há nenhum documento de civilização que não seja ao mesmo tempo um documento de barbárie.»
Walter Benjamin, Teses sobre a Filosofia da História, 1940
Quem quer que tenha saído vitorioso participa até hoje na procissão triunfal em que os governantes de agora passam por cima dos que estão prostrados no chão. Como é de uso, os despojos são transportados ao longo da procissão. Chamam-lhes tesouros culturais. [...] Não há nenhum documento de civilização que não seja ao mesmo tempo um documento de barbárie.»
Walter Benjamin, Teses sobre a Filosofia da História, 1940
Walter Benjamin
«Walter Benjamin, a História dos Vencidos e a Guerra Civil Espanhola» foi um contributo do Socio[B]logue para uma perspectiva de abordagem à Guerra Civil. Procurando equacionar o papel de W. Benjamin, recebemos a seguinte nota de José Fernando Guimarães, do Incógnito qb:
«A obra de Walter Benjamin, como a sua vida, é um labirinto. Um labirinto de amores, de jogo (jogava perdidamente nos casinos), de colecções (livros, por exemplo), de textos. Além disso, esses textos são, muitas vezes, contraditórios de texto para texto. Por isso, Adorno (que vivia exilado nos EUA) olhava para a sua obra de esguelha; o seu grande amigo é, de facto, Sholem. E Adorno olhava para Benjamin de esguelha porque não reconhecia no seu pensamento a matriz marxista - nem sequer a matriz do marxismo da escola de Frankfurt (de que «Dialéctica negativa», «Minima moralia» ou «Teoria estética» são o exemplo - um exemplo conflituoso com a obra maior de Benjamin: «Paris. Capital cultural do século XIX»). Todavia, lá o vai ajudando - pouco, é certo.
É no meio deste labirinto (um labirinto que nasce, creio eu, aquando do não reconhecimento do meio universitário, por alturas da sua tese de doutoramento intitulada «O conceito de crítica estética no romantismo alemão» e que culmina com o não reconhecimento pela universidade de Frankfurt de «Origem do drama barroco alemão»), que Benjamin se fixa em Baudelaire ou Proust, por exemplo.
Qual será, então, a leitura mais completa (ainda que sempre incompleta, como qualquer leitura) da obra de Benjamin? Pois bem. Um cruzamento da filosofia, da literatura, do judaismo. É deste cruzamento que surge o conceito de aura - que se prende com a leitura que Benjamin faz da história (leitura essa que tem pontos de contacto com a leitura de Heidegger). E que está na sua poesia («Os sonetos de Walter Benjamin», trad. Vasco Graça Moura, Campo das Letras).»
José Fernando Guimarães, Incógnito qb
«A obra de Walter Benjamin, como a sua vida, é um labirinto. Um labirinto de amores, de jogo (jogava perdidamente nos casinos), de colecções (livros, por exemplo), de textos. Além disso, esses textos são, muitas vezes, contraditórios de texto para texto. Por isso, Adorno (que vivia exilado nos EUA) olhava para a sua obra de esguelha; o seu grande amigo é, de facto, Sholem. E Adorno olhava para Benjamin de esguelha porque não reconhecia no seu pensamento a matriz marxista - nem sequer a matriz do marxismo da escola de Frankfurt (de que «Dialéctica negativa», «Minima moralia» ou «Teoria estética» são o exemplo - um exemplo conflituoso com a obra maior de Benjamin: «Paris. Capital cultural do século XIX»). Todavia, lá o vai ajudando - pouco, é certo.
É no meio deste labirinto (um labirinto que nasce, creio eu, aquando do não reconhecimento do meio universitário, por alturas da sua tese de doutoramento intitulada «O conceito de crítica estética no romantismo alemão» e que culmina com o não reconhecimento pela universidade de Frankfurt de «Origem do drama barroco alemão»), que Benjamin se fixa em Baudelaire ou Proust, por exemplo.
Qual será, então, a leitura mais completa (ainda que sempre incompleta, como qualquer leitura) da obra de Benjamin? Pois bem. Um cruzamento da filosofia, da literatura, do judaismo. É deste cruzamento que surge o conceito de aura - que se prende com a leitura que Benjamin faz da história (leitura essa que tem pontos de contacto com a leitura de Heidegger). E que está na sua poesia («Os sonetos de Walter Benjamin», trad. Vasco Graça Moura, Campo das Letras).»
José Fernando Guimarães, Incógnito qb
3.7.03
O desafio de «Alexandra Alpha»
Aceito, com agrado, o «desafio» lançado pelo Crítico a propósito de Alexandra Alpha, de José Cardoso Pires. Irei adicionar a obra às referências bibliográficas e, após uma leitura atenta do subtexto, farei uma nota de apresentação sobre ela.
«[...] n'O Delfim, que foi escrito mais ou menos entre 1963 e 1967, o que está em causa é a agonia dum Portugal tradicionalista, incapaz de se moldar aos valores contemporâneos. Um Portugal híbrido. De camponeses-operários como eu lhe chamo no romance, e o romance não ser outra coisa se não o fim das mitologias do poder rural. Em Alexandra Alpha o Portugal em causa é outro e de crise abertamente citadina. Ou seja, a crise que ali se debate é a de uma intelligentsia urbana complexada por um passado carregado de burguesia rural. Crise de identidade cultural, aberta e declaradamente, face à paisagem social. O mundo‚ lá fora, o mundo é a civilização industrial, o 25 de Abril vem aí, eles não sabem, mas vem, e, porque não sabem, inventam-se a si próprios. Se não inventamos o País, não cabemos mais nele, diz uma personagem do livro, suponho que a própria Alexandra Alpha. De tudo quanto se escreveu sobre o romance, daquilo que eu li, pelo menos, só Clara Ferreira Alves levantou referências inteligentes. O resto foi tudo atento, sim senhor, mas cheio de precauções, e eu até compreendo que Alexandra Alpha tenha deixado alguma incomodidade em muita gente, então não compreendo!»
José Cardoso Pires
in Cardoso Pires por Cardoso Pires,
entrev. de Artur Portela, 1.ª edição,
Publicações D. Quixote, 1991, 124 p., pp. 51
«[...] n'O Delfim, que foi escrito mais ou menos entre 1963 e 1967, o que está em causa é a agonia dum Portugal tradicionalista, incapaz de se moldar aos valores contemporâneos. Um Portugal híbrido. De camponeses-operários como eu lhe chamo no romance, e o romance não ser outra coisa se não o fim das mitologias do poder rural. Em Alexandra Alpha o Portugal em causa é outro e de crise abertamente citadina. Ou seja, a crise que ali se debate é a de uma intelligentsia urbana complexada por um passado carregado de burguesia rural. Crise de identidade cultural, aberta e declaradamente, face à paisagem social. O mundo‚ lá fora, o mundo é a civilização industrial, o 25 de Abril vem aí, eles não sabem, mas vem, e, porque não sabem, inventam-se a si próprios. Se não inventamos o País, não cabemos mais nele, diz uma personagem do livro, suponho que a própria Alexandra Alpha. De tudo quanto se escreveu sobre o romance, daquilo que eu li, pelo menos, só Clara Ferreira Alves levantou referências inteligentes. O resto foi tudo atento, sim senhor, mas cheio de precauções, e eu até compreendo que Alexandra Alpha tenha deixado alguma incomodidade em muita gente, então não compreendo!»
José Cardoso Pires
in Cardoso Pires por Cardoso Pires,
entrev. de Artur Portela, 1.ª edição,
Publicações D. Quixote, 1991, 124 p., pp. 51
O Estado Novo e a Guerra Civil
«Tal como os demais poderes fascistas e fascizantes do pós-guerra europeu, o salazarismo será, também ele, a síntese dos contributos e apoios das várias direitas políticas [direita católica, direita republicana, integralistas e nacionais-sindicalistas] e dos interesses. Só que os conjuga de forma particular, [...] - com a consequente subalternização [...] da corrente mais puramente fascista da ditadura. O que não significa que, em momentos de particular crispação, como durante a Guerra Civil de Espanha, se não tenham acentuado as componentes político-ideológicas, iconográficas e organizacionais especificamente fascistas e que elas não tenham marcado mais ou menos duradouramente o Estado Novo.»
Fernando Rosas,
O Estado Novo (1926-1974),
vol. VII de História de Portugal,
dir. de José Mattoso, Lisboa,
Ed. Círculo de Leitores, 1994, pp. 281
Fernando Rosas,
O Estado Novo (1926-1974),
vol. VII de História de Portugal,
dir. de José Mattoso, Lisboa,
Ed. Círculo de Leitores, 1994, pp. 281
Glossário
Frente Popular - Ampla coligação política de esquerda, apoiada por comunistas, socialistas, anarquistas e sindicatos operários, que alcançou o poder, em 1936, em França e Espanha. A sua constituição teve o aval da III Internacional que, em 1935, reviu a sua tese de oposição sistemática à social-democracia e propôs o reagrupamento das forças antifascistas de modo a conter o progressivo avanço do fascismo.
2.7.03
Alínea única
Abre-se aqui uma excepção no carácter fundamental deste blog para agradecer as referências e as abundantes mensagens de apoio recebidas. Envio, então, um fraternal abraço para A Montanha Mágica, o Almocreve das Petas, o Alunagem, o Avatares de um Desejo, o Aviz, o Bisturi, o Blog de Esquerda, o Blogo Social Português, o Blogue dos Marretas, a Bomba Inteligente, o Crítico, o Conversas de Café, o Cruzes Canhoto, o De Esquerda, o Desblogueador de Conversa, o Desejo Casar, o Espigas ao Vento, o Estudos sobre o Comunismo, o Fumaças, o Incógnito qb, o Incongruências, o Linha dos Nodos, o Mar Salgado, o Metrografismos, o Nónio, o Núcleo Duro, O Quarto do Pulha, o Outro, eu, o Portugal dos Pequeninos, o Salmoura, o Socio[B]logue, a Soda Cáustica e, ainda, o Tracejado. A todos/as, obrigado.
Atenção, ainda, para uma nota subordinada a Walter Benjamin, a História dos Vencidos e a Guerra Civil Espanhola, publicada pelo Socio[B]logue em jeito de recepção aos Estudos sobre a Guerra Civil Espanhola. Irei abordá-la num post próximo.
Atenção, ainda, para uma nota subordinada a Walter Benjamin, a História dos Vencidos e a Guerra Civil Espanhola, publicada pelo Socio[B]logue em jeito de recepção aos Estudos sobre a Guerra Civil Espanhola. Irei abordá-la num post próximo.
1.7.03
Referências bibliográficas
[ROMANCE]
..
Sinais de Fogo, de Jorge de Sena (1919-1978)
«Vindo a lume um ano após a morte do autor, este romance de Jorge de Sena representa um caso ímpar na novelística portuguesa recente. No conjunto da obra deste multifacetado poeta, prosador e ensaísta, Sinais de Fogo destaca-se como a narrativa destinada a iniciar um ciclo intitulado Monte Cativo, que deveria cobrir a vida portuguesa entre 1936 e 1959.
O período aqui abrangido centra-se no Verão de 1936 e no ambiente balnear da Figueira da Foz, invadida por espanhóis acossados pela Guerra Civil, recriando todo o contexto dessa época e desse lugar cuja tranquilidade provinciana é perturbada por factos decisivos para o rápido amadurecimento psicológico do protagonista, Jorge, um adolescente no qual podem reconhecer-se aspectos biográficos do próprio Jorge de Sena.
Tais factos dizem sobretudo respeito à revelação do amor e à tomada de consciência política, transformando o romance num percurso de descoberta de um jovem que pela primeira vez ganha contacto com os desejos, medos, paixões e angústias de que se forma a vida humana.»
Sinais de Fogo - Lisboa, Edições 70, 1979
..
Fonte: Instituto Camões
..
Sinais de Fogo, de Jorge de Sena (1919-1978)
«Vindo a lume um ano após a morte do autor, este romance de Jorge de Sena representa um caso ímpar na novelística portuguesa recente. No conjunto da obra deste multifacetado poeta, prosador e ensaísta, Sinais de Fogo destaca-se como a narrativa destinada a iniciar um ciclo intitulado Monte Cativo, que deveria cobrir a vida portuguesa entre 1936 e 1959.
O período aqui abrangido centra-se no Verão de 1936 e no ambiente balnear da Figueira da Foz, invadida por espanhóis acossados pela Guerra Civil, recriando todo o contexto dessa época e desse lugar cuja tranquilidade provinciana é perturbada por factos decisivos para o rápido amadurecimento psicológico do protagonista, Jorge, um adolescente no qual podem reconhecer-se aspectos biográficos do próprio Jorge de Sena.
Tais factos dizem sobretudo respeito à revelação do amor e à tomada de consciência política, transformando o romance num percurso de descoberta de um jovem que pela primeira vez ganha contacto com os desejos, medos, paixões e angústias de que se forma a vida humana.»
Sinais de Fogo - Lisboa, Edições 70, 1979
..
Fonte: Instituto Camões
E se o amanhã nunca chegar?
Na linha da poesia directamente relacionada com a Guerra Civil de Espanha, fértil em referências históricas, publicamos um poema de José Gomes Ferreira, dedicado a Companys. Antigo presidente da República Catalã, foi entregue por Hitler a Franco e fuzilado.
..
De Eléctrico - XXII
(Fuzilaram um homem num país distante)
Hoje proíbo as rosas de nascerem diante de mim!
Proíbo as deusas de dançarem nos olhos das crianças!
Proíbo os corpos das mulheres de terem outro destino que a morte!
Sim, proíbo!
E (baixinho, em sonho) aos gritos no mundo
ordeno aos homens
que venham para a rua descalços
para sentirem nos pés nus
o silêncio da terra
- e o terror de viverem num planeta
onde os fuzilados não ressuscitam,
nem os malmequeres protestam com flores de luto
contra este sol que continua a fabricar primaveras mecânicas
e este cheiro tão bom a mulheres novas nas árvores com cio!
José Gomes Ferreira, in Poesia III
..
De Eléctrico - XXII
(Fuzilaram um homem num país distante)
Hoje proíbo as rosas de nascerem diante de mim!
Proíbo as deusas de dançarem nos olhos das crianças!
Proíbo os corpos das mulheres de terem outro destino que a morte!
Sim, proíbo!
E (baixinho, em sonho) aos gritos no mundo
ordeno aos homens
que venham para a rua descalços
para sentirem nos pés nus
o silêncio da terra
- e o terror de viverem num planeta
onde os fuzilados não ressuscitam,
nem os malmequeres protestam com flores de luto
contra este sol que continua a fabricar primaveras mecânicas
e este cheiro tão bom a mulheres novas nas árvores com cio!
José Gomes Ferreira, in Poesia III