30.10.03
O PCP e a Guerra Civil - 3
«Em 8 de Setembro de 1936 teve lugar em Lisboa a mais aparatosa acção levada a cabo durante a Guerra Civil de Espanha contra a ditadura portuguesa. A Revolta dos Marinheiros, nome por que ficou conhecida, foi desencadeada pela Organização Revolucionária da Armada (ORA), estrutura criada em 1932 para agrupar as células do PCP da Marinha de Guerra. Esta organização estava directamente dependente da direcção partidária e editava um jornal mensal de larga circulação na Marinha, intitulado O Marinheiro Vermelho.
Os marinheiros comunistas sublevaram as tripulações dos navios de guerra Dão, Bartolomeu Dias e Afonso de Albuquerque, procurando sair com eles da Barra do Tejo. Depois de uma série de peripécias que atrasaram a acção e que não importa aqui descrever em pormenor [1], entre as quais a avaria do Bartolomeu Dias, a sublevação dos marinheiros é descoberta e as autoridades ordenam à artilharia dos fortes de Almada e do Alto do Duque que procedam ao bombardeamento dos navios até à rendição. Após uma intensa troca de tiros, durante a qual morreram 10 marinheiros, a revolta fracassou e os sublevados foram presos. Depois de jugular violentamente a rebelião, o governo procurou fazer da punição dos revoltosos um exemplo para dissuadir posteriores veleidades insurreccionais - 82 dos marinheiros implicados foram condenados a pesadas penas de prisão e 34 desses homens iriam inaugurar o Tarrafal, em Outubro desse ano.
No dia da revolta, o Diário de Notícias noticiava à largura de toda a primeira página:
'Algumas dezenas de cabos e marinheiros, representando apenas uma pequena parte das guarnições daqueles barcos, tomaram conta dos navios, prenderam os oficiais de serviço e tentaram sair a Barra para se irem juntar à esquadra marxista espanhola.'
[...] Esta versão dos acontecimentos construída e difundida pela ditadura com evidentes intuitos propagandísticos acabaria curiosamente por ser incorporada pela memória antifascista, que vê na Revolta dos Marinheiros o mais heróico acto de solidariedade para com os republicanos espanhóis, e perdura inclusivamente ao nível da historiografia. Contudo, não corresponde em rigor à verdade [...]»
[1] Para uma reconstituição factual detalhada da revolta veja-se: João Faria Borda, A Revolta dos Marinheiros, Lisboa, Edições Sociais, 1974; «Conversa entre Marinheiros - Histórias que não se podiam contar... A revolta dos navios de 1936 vista e vivida por alguns oficiais e marinheiros que nela tomaram parte», in Revista da Armada, n.º 34, 35, 36, Julho-Setembro de 1974; Ricardo Machaqueiro, «A ORA da Revolta», in Expresso - Revista, 16.09.1995, pp. 26-32.
..
Fonte: João Brito Freire, "O Partido Comunista Português e a Guerra Civil de Espanha", in Portugal e a Guerra Civil de Espanha (Coord.: Fernando Rosas), Lisboa, 1998, Edições Colibri, p. 190-192
Os marinheiros comunistas sublevaram as tripulações dos navios de guerra Dão, Bartolomeu Dias e Afonso de Albuquerque, procurando sair com eles da Barra do Tejo. Depois de uma série de peripécias que atrasaram a acção e que não importa aqui descrever em pormenor [1], entre as quais a avaria do Bartolomeu Dias, a sublevação dos marinheiros é descoberta e as autoridades ordenam à artilharia dos fortes de Almada e do Alto do Duque que procedam ao bombardeamento dos navios até à rendição. Após uma intensa troca de tiros, durante a qual morreram 10 marinheiros, a revolta fracassou e os sublevados foram presos. Depois de jugular violentamente a rebelião, o governo procurou fazer da punição dos revoltosos um exemplo para dissuadir posteriores veleidades insurreccionais - 82 dos marinheiros implicados foram condenados a pesadas penas de prisão e 34 desses homens iriam inaugurar o Tarrafal, em Outubro desse ano.
No dia da revolta, o Diário de Notícias noticiava à largura de toda a primeira página:
'Algumas dezenas de cabos e marinheiros, representando apenas uma pequena parte das guarnições daqueles barcos, tomaram conta dos navios, prenderam os oficiais de serviço e tentaram sair a Barra para se irem juntar à esquadra marxista espanhola.'
[...] Esta versão dos acontecimentos construída e difundida pela ditadura com evidentes intuitos propagandísticos acabaria curiosamente por ser incorporada pela memória antifascista, que vê na Revolta dos Marinheiros o mais heróico acto de solidariedade para com os republicanos espanhóis, e perdura inclusivamente ao nível da historiografia. Contudo, não corresponde em rigor à verdade [...]»
[1] Para uma reconstituição factual detalhada da revolta veja-se: João Faria Borda, A Revolta dos Marinheiros, Lisboa, Edições Sociais, 1974; «Conversa entre Marinheiros - Histórias que não se podiam contar... A revolta dos navios de 1936 vista e vivida por alguns oficiais e marinheiros que nela tomaram parte», in Revista da Armada, n.º 34, 35, 36, Julho-Setembro de 1974; Ricardo Machaqueiro, «A ORA da Revolta», in Expresso - Revista, 16.09.1995, pp. 26-32.
..
Fonte: João Brito Freire, "O Partido Comunista Português e a Guerra Civil de Espanha", in Portugal e a Guerra Civil de Espanha (Coord.: Fernando Rosas), Lisboa, 1998, Edições Colibri, p. 190-192
20.10.03
Robert Capa
Uma das fotos mais famosas da Guerra Civil Espanhola é atribuída a Robert Capa. O momento exacto da morte de um soldado republicano perpetuou a imagem de uma guerra fratricida, símbolo primeiro dos «fascínios ideológicos» que marcariam indelevelmente o século XX.
António Carvalhal remete-nos para mais informação sobre a polémica da autenticidade da imagem.
António Carvalhal remete-nos para mais informação sobre a polémica da autenticidade da imagem.
Estátuas e bustos de Franco
O leitor Nuno Sousa desafia os Estudos a elaborarem uma lista de estátuas e bustos de Franco ainda existentes em Espanha. A sugestão, exaustiva no terreno, permite abrir novas gavetas de investigação. Mas as limitações próprias de um projecto desta natura impossibilitam um levantamento sólido dessas referências.
Fica, então, o repto. Se algum leitor possuir bases documentais que possibilitem este trabalho, poderá enviá-las para o meu endereço electrónico.
Fica, então, o repto. Se algum leitor possuir bases documentais que possibilitem este trabalho, poderá enviá-las para o meu endereço electrónico.
13.10.03
Hemingway e a Guerra Civil
Um ensaio muito interessante de Giselle Belguelman-Messina sobre Ernest Hemingway e a Guerra Civil Espanhola.
10.10.03
A publicar
Brevemente:
- Espanha e Portugal: Correspondência entre as autoridades durante o conflito.
- Relatórios da PVDE.
- Lista de graduados e soldados integrantes da MMPOE (Missão Militar Portuguesa de Observação em Espanha).
- Espanha e Portugal: Correspondência entre as autoridades durante o conflito.
- Relatórios da PVDE.
- Lista de graduados e soldados integrantes da MMPOE (Missão Militar Portuguesa de Observação em Espanha).
8.10.03
Listagem biográfica - 1
Como se sabe, são escassas as referências documentais a portugueses que tenham combatido na Guerra Civil Espanhola. No seu livro «Salazar e a Guerra Civil de Espanha», César Oliveira elabora uma listagem daqueles a partir dos Arquivos da PIDE/DGS, do MNE, do Arquivo Histórico-Social (Biblioteca Nacional de Lisboa), da Secção Político-Social do Servicio Histórico Militar de Salamanca e de testemunhos pessoais recolhidos.
Partindo dos extensos dados biográficos e bibliográficos que César Oliveira nos fornece, os Estudos publicarão algum desse material, cruzando-o com novas informações e procurando uma aproximação estimativa à reconstituição que nos falta. Quaisquer adendas à listagem serão bem recebidas.
..
Lista nominativa de portugueses combatentes pela República:
- A -
Abel Fernandes de Almeida
- circular 578/SS da PVDE.
Abel Fernandes Lopes
- residia em Espanha desde 1918, internado em Gurs e na 184.ª C.ª de Trabalho. Pediu repatriação.
Abel Fernandes Rodrigues
- em Espanha desde 1926, internado em Argelès-sur-Mer.
Abílio Augusto Barbosa
- preso pelos nacionalistas em Fevereiro de 1937, fuzilado por ordem do Governador Militar de Pontevedra.
Agostinho Ferreira Machado
- natural de Valença do Minho, em 1939 tinha 39 anos. Internado em França e na 251.ª C.ª de Trabalho.
Agostinho Monteiro
- circular 632/SS.
Albano Dias Barreto
- pediu repatriação em 15/4/41, informação da Polícia de Vichy à PVDE.
Albertino Ferreira
- circular 644/SS. Em 1940 tinha 44 anos.
Alberto Antunes Mendes
- em Espanha desde 1920. Internado em França e na 184.ª C.ª de Trabalho
(novos dados biográficos nos próximos dias)
...
[NOTA]
As circulares acima citadas, como explica César Oliveira, emanavam da PVDE e destinavam-se aos postos de fronteira para que os indivíduos que nelas constassem aí fossem detidos.
Partindo dos extensos dados biográficos e bibliográficos que César Oliveira nos fornece, os Estudos publicarão algum desse material, cruzando-o com novas informações e procurando uma aproximação estimativa à reconstituição que nos falta. Quaisquer adendas à listagem serão bem recebidas.
..
Lista nominativa de portugueses combatentes pela República:
- A -
Abel Fernandes de Almeida
- circular 578/SS da PVDE.
Abel Fernandes Lopes
- residia em Espanha desde 1918, internado em Gurs e na 184.ª C.ª de Trabalho. Pediu repatriação.
Abel Fernandes Rodrigues
- em Espanha desde 1926, internado em Argelès-sur-Mer.
Abílio Augusto Barbosa
- preso pelos nacionalistas em Fevereiro de 1937, fuzilado por ordem do Governador Militar de Pontevedra.
Agostinho Ferreira Machado
- natural de Valença do Minho, em 1939 tinha 39 anos. Internado em França e na 251.ª C.ª de Trabalho.
Agostinho Monteiro
- circular 632/SS.
Albano Dias Barreto
- pediu repatriação em 15/4/41, informação da Polícia de Vichy à PVDE.
Albertino Ferreira
- circular 644/SS. Em 1940 tinha 44 anos.
Alberto Antunes Mendes
- em Espanha desde 1920. Internado em França e na 184.ª C.ª de Trabalho
(novos dados biográficos nos próximos dias)
...
[NOTA]
As circulares acima citadas, como explica César Oliveira, emanavam da PVDE e destinavam-se aos postos de fronteira para que os indivíduos que nelas constassem aí fossem detidos.
Sobre os combatentes portugueses em Espanha
«... homens que abandonaram a sua vida, interesses e cómodos, foram combater pela Espanha, morreram pela Espanha (...) Orgulha-me que tenham morrido bem e todos - vivos ou mortos - tenham escrito pela sua valentia mais uma página heróica da nossa história (...) Não temos nada a pedir, nem contas a apresentar. Vencemos, eis tudo.»
Oliveira Salazar, Discurso de 22 de Maio de 1939
Oliveira Salazar, Discurso de 22 de Maio de 1939
2.10.03
Espanha exuma os mortos e a memória
Um artigo publicado no Le Monde de 24 de Setembro. Sobre a memória de Espanha que ainda está por exumar:
«L'Espagne exhume ses morts et sa mémoire
Le plus célèbre s'appelait Federico Garcia Lorca. Plus de 30 000 autres ont disparu pendant la guerre civile. Partis à leur recherche, leurs descendants rouvrent les fosses communes du franquisme.» [ler mais]
..
Fonte: Le Monde, 24.Set.03
«L'Espagne exhume ses morts et sa mémoire
Le plus célèbre s'appelait Federico Garcia Lorca. Plus de 30 000 autres ont disparu pendant la guerre civile. Partis à leur recherche, leurs descendants rouvrent les fosses communes du franquisme.» [ler mais]
..
Fonte: Le Monde, 24.Set.03
1.10.03
Referências bibliográficas
[HISTÓRIA]
..
No Pasarán!
- Cenas e Cenários da Guerra Civil de Espanha, de José Viale Moutinho
«Escreve Raúl Morodo, no prefácio desta obra, que a Guerra Civil de Espanha continua a ser um tema polémico. Mais, que se tratou de 'uma guerra romântica, possivelmente a última grande contenda romântica do Ocidente', que 'foi também uma guerra de bipolarizações radicais entre conceitos opostos do mundo, onde não era possível a posição neutral' e que se tornou numa 'cruzada religiosa para os rebeldes e uma questão de fidelidade à República para o lado oposto'.
José Viale Moutinho, numa prosa eivada de protesto e solidariedade, revê neste projecto de investigação, o conflito que arrastou nomes incontestáveis como Neruda, Malraux, Hemingway, Orwell e García Lorca. Testemunhos pessoais dos protagonistas, documentação epistolar e a narrativa de encontros com figuras importantes como Álvaro Cunhal, Nicolás Sánchez-Albornoz, Santiago Álvarez e Irene Falcón, contribuem para dar um cunho realista a uma obra que emergiu das reportagens de guerra publicadas no Diário de Notícias durante os Verões de 1995 e 1996.
No Pasarán! foi recentemente distinguido com o Prémio Norberto Lopes, da Casa da Imprensa, tendo obtido o Prémio de Reportagem Diário de Notícias.»
Fonte: Editorial Notícias
..
No Pasarán!
- Cenas e Cenários da Guerra Civil de Espanha, de José Viale Moutinho
Colecção Biblioteca da História, Lisboa, Editorial Notícias, ISBN 972-46-0958-8, 252 p.
..
No Pasarán!
- Cenas e Cenários da Guerra Civil de Espanha, de José Viale Moutinho
«Escreve Raúl Morodo, no prefácio desta obra, que a Guerra Civil de Espanha continua a ser um tema polémico. Mais, que se tratou de 'uma guerra romântica, possivelmente a última grande contenda romântica do Ocidente', que 'foi também uma guerra de bipolarizações radicais entre conceitos opostos do mundo, onde não era possível a posição neutral' e que se tornou numa 'cruzada religiosa para os rebeldes e uma questão de fidelidade à República para o lado oposto'.
José Viale Moutinho, numa prosa eivada de protesto e solidariedade, revê neste projecto de investigação, o conflito que arrastou nomes incontestáveis como Neruda, Malraux, Hemingway, Orwell e García Lorca. Testemunhos pessoais dos protagonistas, documentação epistolar e a narrativa de encontros com figuras importantes como Álvaro Cunhal, Nicolás Sánchez-Albornoz, Santiago Álvarez e Irene Falcón, contribuem para dar um cunho realista a uma obra que emergiu das reportagens de guerra publicadas no Diário de Notícias durante os Verões de 1995 e 1996.
No Pasarán! foi recentemente distinguido com o Prémio Norberto Lopes, da Casa da Imprensa, tendo obtido o Prémio de Reportagem Diário de Notícias.»
Fonte: Editorial Notícias
..
No Pasarán!
- Cenas e Cenários da Guerra Civil de Espanha, de José Viale Moutinho
Colecção Biblioteca da História, Lisboa, Editorial Notícias, ISBN 972-46-0958-8, 252 p.