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16.7.03

Não era um Rei do século XIX? 

A pretexto do 25º aniversário da morte de Franco, a revista do Expresso de 25.Nov.00 publicou um conjunto de artigos relacionados com o ditador. O retrato de uma sociedade que recusa, numa claustrofobia histórica, encarar o seu passado recente:


«Não era um Rei do século XIX?

Para os jovens espanhóis de hoje, o nome do pequeno general galego que durante quase quatro décadas se sentiu investido de uma «missão divina», governando a Espanha com mão de ferro, significa quase nada. A reacção é lógica: não conheceram a ditadura franquista e, sem «memória histórica», vêem Franco como um «fantasma da história».

Essa é pelo menos a reacção dos alunos de História do liceu Alkal'a Nahar, em Alcala de Henares (Madrid). Têm 17/18 anos, preparam-se já para entrar na Universidade, mas confessam que estariam mais à vontade para descrever em cinco linhas a época de Fernando VII (1784-1833) do que os 37 anos de ditadura franquista, como sucedeu em 1999, no exame da «selectividade» (fim de curso).

Piedad Lozoya procura justificar a reacção dos seus alunos. «O programa de História está muito carregado e é dado por ordem cronológica dos acontecimentos históricos, pelo que, quando chegamos ao fim do ano lectivo, já não temos o tempo necessário para estudar a fundo os últimos capítulos do programa, que tratam precisamente da II República, da Guerra Civil e de Franco.»

Outro professor de História, António Domenech, é da mesma opinião. «Seria talvez preferível ensinar a História começando pelas épocas mais recentes. Mas como isso não é possível, e como acabamos muitas vezes por não tratar devidamente a época franquista, aparecem alunos que situam Franco no século XIX ou perguntam se era um Rei anterior à II República.»

Javier, um aluno de 17 anos, confessa que «não sabe nada» de Franco. Porém, considera que os pais são os principais responsáveis do défice de «memória histórica» dos filhos. «A minha família é de direita, mas nunca me falou de Franco. Creio que não querem desenterrar o passado.»

Carmen, de 18 anos, intervém para dizer: «Os meus pais são de esquerda e adoptaram a mesma atitude.»

O caso de David, também com 18 anos, não é menos significativo do desconhecimento que os jovens espanhóis têm de Franco. Conta que, na sua família, que é monárquica, «tudo o que está relacionado com o antigo regime é uma questão tabu». Também confessa que leu livros sobre Mussolini, mas que nunca se interessou por Franco, que era para si «um desconhecido, sem qualquer interesse».

António Domenech sustenta que esta «amnésia colectiva» à volta de Franco está ligada aos horrores da guerra civil e do princípio da ditadura franquista. «A vitória de Franco serviu de desculpa para vinganças e ajustes de contas que não tinham nada a ver com a política. Por exemplo, na localidade onde vivia a minha família foram executadas muitas pessoas, mas os meus pais nunca me falaram do assunto!»

Esta vontade de «enterrar e esquecer completamente o passado» explicaria também a maneira asséptica como se trata o franquismo nas escolas. Os livros de História procuram dar uma imagem fria, objectiva e imparcial do franquismo, utilizando termos como «regime», «época», «era», «período», mas só muito raramente a palavra «ditadura», como se as autoridades académicas quisessem fugir à polémica «relativizando» a questão.

Os resultados estão à vista: 45% dos espanhóis pensam que Franco «fez coisas boas e coisas más», uma opinião que é também a da maioria dos alunos de Piedad Lozoya. «Pelo meu lado, insisto sempre muito com os meus alunos em que Franco era um ditador cruel e que só depois da sua morte é que os espanhóis puderam recuperar a democracia e as liberdades», sublinha a professora de História.

A reacção de David, por exemplo, é bastante significativa. Por um lado, pensa que com Franco «haveria menos terrorismo, menos separatismo basco e menos nacionalismo catalão». Mas, por outro lado, rejeita energicamente a etiqueta de «franquista», dizendo que «é pejorativa, utilizada apenas por um punhado de jovens violentos, sem ideologia, ligados geralmente aos grupos 'ultra' dos clubes de futebol».

Tal como 59% dos espanhóis, os alunos de Akal'a Nahar consideram que o franquismo «é apenas um elemento residual sem qualquer influência na sociedade espanhola». Por exemplo, Javier, Carmen e David só conhecem um dos 18 descendentes directos de Franco, a «netíssima» Carmen Martinez-Bordiu, «e só porque já vai no terceiro casamento e aparece muitas vezes nas revistas cor-de-rosa».

Também admitem que o seu desconhecimento de Franco esteja relacionado com o desaparecimento da maioria dos elementos da chamada «memória imposta» do franquismo. «Aqui, em Alcala de Henares, não conhecemos nenhum monumento de Franco», indicam os alunos de Piedad Lozoya, que ignoravam que só existem em todo o país três estátuas equestres do «Caudillo» - em Madrid, em Santander e em El Ferrol, a cidade natal do ditador.

Como diria alguns dias antes ao Expresso o chefe do Governo espanhol, José Maria Aznar, no Palácio da Moncloa: «Temos de assumir com naturalidade que Franco faz parte da História. Também não podemos ignorar que Franco foi Chefe de Estado até ao seu último suspiro e que morreu de velhice numa cama da Segurança Social. Deixemos pois aos historiadores a responsabilidade de julgar o papel histórico de Franco.»

Aliás, tal como a esmagadora maioria dos espanhóis, os alunos de Akal'a Nahar fazem um balanço extremamente positivo dos últimos 25 anos e mostram-se particularmente orgulhosos da «transição política» espanhola, cujos principais protagonistas foram o Rei Juan Carlos, designado por Franco, e Adolfo Suarez, que havia sido secretário-geral do «Movimiento», o partido único franquista.

«A transição política espanhola e os últimos 25 anos são a história de um êxito colectivo», diria ainda Aznar, citando o seu próprio exemplo: neto de um alto dignitário do franquismo e filho de um importante falangista, não lutou contra o franquismo, o que não impede que alguém possa pôr em dúvida as suas convicções democráticas. E governa hoje o país, com maioria absoluta.»

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Fonte: Jornal Expresso, 25/11/00, texto de José Alves

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